Escrever para outros é absolutamente diferente de escrever para si. Ao passo que este último é um ato íntimo, com menos repressões e esconderijos, o primeiro é bem mais "formatado", selecionado e controlado. Um ponto positivo é que muito dos delírios, falsas afirmações da escrita para si não subsistem à autoavaliação que precede a publicação. Já a desvantagem é que o texto publicado tende a se tornar "vulgar" ou "ordinário", pois conforma-se à "linguagem" comum e média, no sentido de agradar ao outro, isto é, a falar o politicamente correto e o minimamente aceitável. É verdade que escrever para si ainda tem algo de omitido, mas só o é na medida do receio de que sua mãe vai pegar seus rascunhos e ver que você é um cosmonauta lunático.
Bem, a diferença é tanta que poderíamos até afirmar que estes dois tipos de escrita compreendem dois gêneros diferentes. Aparentemente, é apenas o meio, o canal ou o suporte que muda. Mas vemos que muda-se toda a relação do texto, ou seja, a relação entre o emissor e o receptor. Dar apenas vazão aos pensamentos numa folha de rascunho no canto do quarto ou no bloco de notas do celular é bem diferente de convencer um público sobre uma ideia, surpreendê-lo com ideias novas ou fazê-lo rir. Desse modo, tal relação acaba por modificar o conteúdo escrito.